Quando eu era criança, a maternidade era um lugar sonhado. Me imaginava morando numa casa impecavelmente organizada, as crianças brincando em harmonia, a família em perfeita sintonia — como nas novelas, nos filmes e nos contos de fadas.
Na minha fantasia, eu seria uma mãe perfeita. Meus filhos comeriam só alimentos saudáveis, não assistiriam televisão e tudo fluiria com leveza, porque, claro, ser mãe não deveria ser difícil para quem sempre quis isso, certo? Doce ilusão…
Da fantasia à realidade: o choque da maternidade
O tempo passou. E a vida me mostrou que não existe maternidade sem conflito, cansaço e frustração. E está tudo bem!
Mesmo já entendendo as exigências da vida adulta, a imagem da mãe idealizada ainda me encantava. As gestantes pareciam mágicas. Ser mãe, eu pensava, deveria ser a experiência mais linda do mundo.
Até que eu mesma me tornei mãe. E, com isso, descobri um universo imenso, cheio de sombras que ninguém me contou.
Gravidez, invasões e a culpa por não amar tudo
Quando fiquei grávida, nada foi como imaginei. Foi desconfortável. Tive que lidar com comentários sem filtro, toques indesejados e um turbilhão de emoções que me deixavam confusa.
Me sentia culpada por não gostar de tudo. Culpada por não estar radiante. Culpada por sentir desconforto onde me disseram que deveria haver encantamento.
Me questionei muitas vezes: “Será que tem algo errado comigo?”
O parto que não foi como sonhei. O puerpério que ninguém me explicou.
O parto não aconteceu da forma que planejei. E o puerpério me virou do avesso. As emoções eram intensas, o corpo cansado, e o silêncio social sobre esse período só aumentava minha sensação de estar falhando.
Mas será mesmo que a maternidade é feita só de luz? Só de fotos lindas e legendas inspiradoras?
Maternidade e saúde mental: quando a culpa adoece
É importante dizer: cada mulher vive a maternidade de uma forma única. E tudo bem se ela não for mágica para você.
O problema é que a sociedade insiste em vender uma versão romântica, perigosa e muitas vezes destrutiva da maternidade.
Um dos mitos mais cruéis? O do amor materno instantâneo.
Dizem que, ao olhar para o bebê, toda mulher sente um amor intenso, absoluto, capaz de tudo. Mas nem sempre é assim. E está tudo bem se esse amor não aparecer de imediato. Ele é aprendido. Ele nasce do vínculo — não da obrigação.
Ser uma boa mãe não é ser uma mãe perfeita
O sentimento de inadequação é o combustível da culpa materna. A mulher começa a se perguntar se é digna de ser mãe. E com isso, se anula, se cansa, se frustra — mas não fala sobre isso com ninguém.
E assim nasce outro mito: o da mãe que não sente. Que não se cansa, não reclama, não deseja tempo para si. Que vive apenas em função do filho. Que desaparece.
Essa idealização adoece. Ela sobrecarrega. Ela aprisiona.
Esse esgotamento pode gerar quadros graves, como depressão pós-parto e ansiedade, além de prejudicar o vínculo com o bebê e afetar o desenvolvimento infantil.
Somos a mãe que conseguimos ser — e isso basta
Não somos a mãe dos livros, das redes sociais, dos comerciais. Somos a mãe que conseguimos ser com os recursos que temos.
Cada mulher constrói seu jeito de maternar. E não existe modelo ideal. O que nossos filhos realmente precisam não é perfeição. É presença. É conexão. É humanidade.
Filhos não precisam de mães perfeitas. Precisam de mães reais.
E só pra constar: até existem “mães perfeitas”… mas elas ainda não têm filhos.
Você se identificou com esse texto?
Eu sou psicóloga e atendo mulheres que vivem a maternidade real, com todas as suas dores, dúvidas e transformações. Se você sente que está sobrecarregada, cansada de se cobrar tanto ou vivendo um ciclo de culpa que não termina, me chama pra conversar. Pode ser o primeiro passo pra você voltar a se enxergar como mulher, além de mãe.
💬 Vamos agendar um café virtual? Clique aqui e fale comigo pelo WhatsApp.